Quando a morte se torna companheira de reflexões, Crônicas de Uma Yoguini lembra que o fim carrega em si um convite: o de viver cada instante com mais profundidade, coragem e afeto.
(Andrea Hughes, de Crônicas de uma Yoguini)
Comecei a ficar mais íntima da morte em 2007, quando meu avô faleceu e minha mãe me ligou dizendo: "Papai morreu" - com voz de choro. Por alguns segundos, pensei que era minha irmã falando do nosso pai, e meu chão desapareceu, sumiu, escafedeu-se. Os segundos se passaram, me dei conta de que era minha mãe e que na verdade a morte era do meu avô, e não do meu pai, o que mudou a situação um pouco, mas me deixou com a sensação de que precisava me aprofundar nesse tema, para meu mundo não desabar quando chegar a morte do meu pai ou da minha mãe.
Foi aí que procurei várias leituras sobre o tema, primeiro comprei o "Livro Tibetano dos Mortos" e achei de uma leitura super difícil. Não gostei. Finalmente cheguei até o "Livro Tibetano do Viver e do Morrer", que leio passagens até hoje nas minhas aulas de yoga, de tão maravilhoso que ele é, e recomendo.
As fotos que ilustram essa crônica são da Pati, uma grande amiga e aluna de yoga, que também me ensinou muito sobre a morte. Ela teve câncer de peritônio, membrana que reveste e suporta os órgãos da cavidade abdominal. Eu tive muito medo de começar a dar aula de yoga para ela, pois ela parecia tão frágil, mas a decisão de começar foi uma das melhores decisões da minha vida.
As aulas se deram no ReHaB, espaço que fica na 213 Sul, sob o apoio de Leandro Giordano, com a fabulosa presença de Maria Emilia Bottini, psicóloga especializada em perda e luto. A ideia era de termos uma turma com pessoas com todo tipo de questão de saúde, tivemos presenças como pessoas com esclerose lateral amiotrófica, pessoas com outros tipos de câncer, pessoas com deficiências físicas, mas a presença que permaneceu constante foi a da Pati, que mesmo com o aparelho da químio, ia para as aulas, pois segundo ela mesma, ela sempre saía melhor do que entrava.
Nós saíamos juntas para comer alguma coisa após as aulas e sempre era uma festa. A presença dela na minha vida foi uma benção, acho que as coisas mais lindas que ouvi sobre mim mesma, foram da voz da Pati. A nossa convivência foi intensa nos últimos anos de vida dela, viajamos juntas para Pirenópolis e quando ela decidiu não mais fazer a químio, pois o médico a comunicou que o tratamento seria apenas paliativo, ela me disse que fui a única pessoa que ficou feliz com a decisão dela. Eu sabia o quanto era sofrido o tratamento para ela, eu sabia que ela não aguentava mais aquilo, e que continuar com a químio era simplesmente prolongar o sofrimento físico dela, que já era imenso.
Com ela aprendi a fazer graça da morte, a olhar a morte de perto e apesar de toda a saudade que tenho dela, compreender que cada um de nós tem um tempo por aqui. Ano passado tive 3 velórios para ir no mesmo mês, a irmã, o pai e a mãe de amigas distintas. Entendi também o quanto é importante apoiar quem fica e sofre de saudade, fui aos 3 velórios abraçar minhas amigas, estar lá por elas.
Este ano também estive junto de amigas, alunas e família em situações muito delicadas relacionadas a morte, e sinto que só consegui porque a Pati está comigo sempre, me fazendo ser corajosa, como ela foi e como eu tive que ser para aceitar dar aula de yoga para aquele corpo tão frágil, tão delicado. Te amo, Pati!
Realmente uma pessoa que iluminava e nos tranquilizava. Lindo texto, amiga
Pathy foi minha aluna de flauta e me ensinou muito, sobre a vida e sobre a morte. Eu dizia que ela era a pequenininha mais gigante que eu conhecia. Estive ao lado dela por mais de dez anos. Que pessoa forte, resiliente e de um bom humor incrível, apesar das adversidades. Seus astral faz falta por aqui.