Genitores culpam empresas pelos danos causados, mas o que podemos fazer para proteger nossos filhos? A coluna Fatos e Afetos traz 3 dicas equilibrar o uso das redes sociais na infância e adolescência
Jamila Gontijo, para a coluna Fatos e Afetos
O dilema das redes para crianças e adolescentes
As redes sociais, essa maravilhosa terra de ninguém criada na Era Digital, que aproxima os distantes e distancia os próximos, vai a cada dia revelando seus efeitos negativos. E nós, humanos analógicos, corremos para remediar os efeitos dessa Era ao invés de antecipar, com políticas públicas e educação, um caminho para aproveitar o maravilhoso mundo digital sem implodir a já delicada saúde mental – principalmente dos humanos em formação. Nos Estados Unidos parece que o jogo está virando, por bem ou por mal.
Dezenas de genitores nos Estados Unidos estão processando empresas donas de redes sociais por supostos "danos físicos, mentais ou emocionais" sofridos por crianças e adolescentes ao usar essas plataformas. Segundo informações da imprensa nacional e internacional, ações foram movidas contra a Meta, proprietária do Facebook e do Instagram, e a Snap, dona do Snapchat. Processos de outras famílias também têm como alvo o Google, que administra o YouTube, e a ByteDance, que cuida do TikTok.
As ações alegam que a "crise de saúde mental sem precedentes entre as crianças" é alimentada pelos produtos "defeituosos", "viciantes" e "perigosos" dessas empresas. O objetivo é suspender práticas apontadas como prejudiciais e, em muitos casos, envolvem pedidos de indenizações. As empresas rejeitam as alegações e se defendem dizendo que implementam e atualizam ferramentas e recursos para proteger crianças e adolescentes em suas plataformas – o que está sendo insuficiente na visão dos pais norte-americanos.
Os efeitos negativos das redes sociais na saúde mental dos adolescente é uma preocupação nos EUA, cujo porta-voz do governo para saúde pública já fez declarações públicas reconhecendo que as redes tem benefícios, mas também trazem riscos. Como tudo na vida real, há luz e sombra nos domínios digitais - só não sabemos ainda os limites luminosos e sombrios.
Pesquisas recentes não oferecem evidências conclusivas, e a própria Associação Americana de Psicologia afirma que "o uso de redes sociais não é inerentemente benéfico ou prejudicial para os jovens". Embora seja necessário apresentar dados consistentes para embasar a adoção de regulamentação e políticas públicas para qualquer segmento social, qualquer genitor com filhos na idade escolar sabe que o uso de redes sociais por seus filhos não é inócuo. Nem mesmo os jogos digitais ou a simples navegação por ferramentas de pesquisa pode ser livre de monitoramento parental porque oferecem sérios riscos para a segurança. Basta um pouquinho de realidade empírica para confirmar isso.
Por um lado, não podemos criar indivíduos alienados do mundo digital, que faz parte da realidade social das crianças e adolescentes. No entanto, ainda não temos respostas sobre como administrar de forma saudável o uso destas tecnologias. Há uma lacuna entre o avanço digital e como a sociedade organiza estas novas realidades, conhecendo seus efeitos negativos. Parte deste abismo entre estímulo e resposta vem dos interesses privados das grandes empresas que controlam essas ferramentas que impactaram nossos costumes e crenças.
Enquanto não encontramos soluções coletivas e regulatórias, podemos adotar individualmente medidas simples que podem fazer a diferença positiva no trato das redes sociais e o uso por nossos filhos. Para isso, trago 3 dicas:
Pic-nic no bistro Bom Demais, do Jardim Botânico: passeios ao ar livre para sair das redes. Foto: Jamila Gontijo
1. Manter o diálogo
Parece óbvio, mas não é. Falar sobre o uso da internet com nossos filhos mostrando os riscos e os efeitos negativos é uma maneira de esclarecer porque precisamos de limites de navegação. Mostrar que as regras ainda estão sendo formuladas e que, enquanto isso, é o bom senso familiar que deve prevalecer faz com que a criança/adolescente seja convidado a fazer parte da solução. Ouvir o que ele pensa das redes sociais e da internet é uma boa estratégia para criar conexão sobre o assunto.
2. Estabelecer limites claros e inegociáveis
Temos regras para várias dinâmicas familiares, como trabalho doméstico, gastos e comportamentos dentro e fora de casa. Com a internet não é diferente. Criar regras claras sobre tempo de uso, limites de navegação, idade para começar a usar algum aparelho tecnológico traz clareza para a negociação e com isso aumenta o engajamento dos filhos. Crianças e adolescentes gostam de entender porque as regras são feitas, mesmo que não verbalizem isso. Explicar porque tomamos certas medidas indica respeito e demonstra que o poder de decisão dos pais não é feito de forma aleatória. O principal é manter as regras estabelecidas, sem cair na tentação de liberar acesso a jogos ou internet para manter a criança distraída quando for conveniente.
3. Fazer passeios em família ao ar livre
O consumo de internet e redes sociais tem um efeito secundário: enquanto navegamos estamos nos distraindo com conteúdos externos, feitos por alguém e que possuem um alto poder de estimular nossa mente. Tudo isso nos aproxima “dos outros” e nos afasta de nós mesmos. O tempo sozinho, em silêncio, com espaço para ouvir o mundo interno é fundamental para a saúde mental, mas é um hábito que está sendo eliminado do nosso cotidiano. Passear e praticar esportes, caminhar em parques ou ar livre é o melhor antídoto para essa fuga de si, em busca da distração externa. Criar uma rotina de fazer esses passeios em família é um recurso eficiente para cultivas outros estímulos como ficar em silêncio, observar a natureza e praticar a presença corporal. Em Brasília não faltam opções para esses passeios. Temos o Jardim Botânico, o Parque da Cidade e o Parque Olhos d`Água, por exemplo, que podem virar também ponto de encontro com amigos. Que tal praticar?
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