Em entrevista exclusiva, Moema Dourado fala sobre o processo criativo para criar objetos e instalações que compõe a exposição aberta até o dia 28 de junho.
A figura feminina é central nas instalações e objetos da exposição. (Foto: Jamila Gontijo)
(por Jamila Gontijo)
Visitar a exposição Oratórios de Mim é uma experiência sensorial com estímulos sonoros e visuais que criam um ambiente de acesso às memórias da artista e nos tocam por serem universais, também nossas memórias. É denso, é suave, é instigante como a psique humana: um relicário de luz e sombra.
Com objetos e instalações artísticas, Moema Dourado, artista, psicóloga e analista junguiana, conta histórias ao mesmo tempo íntimas e coletivas sobre o feminino presente em todos nós. Em sua primeira exposição individual, Moema evoca avós, mães, tias, figuras femininas presentes nas nossas memórias, e conversa, por meio de imagens, com a criança interior que nós guardamos em nossos recantos mais íntimos. Por isso, a exposição montada no Espaço Oscar Niemeyer, na Praça dos 3 Poderes, tem a potência de despertar tantas emoções no visitante. Em entrevista exclusiva para o Brasília News, Moema fala sobre seu processo criativo, que também compartilhou em uma visita guiada feita com artistas e psicoterapeutas, na qual estive presente, à convite da artista.
Um dos totens feitos com dormentes de trem. Foto: Jamila Gontijo
Em um mundo de superficialidades instagramáveis, percorrer Oratórios de Mim é lembrar que o sagrado e o profundo também nos habitam e podem falar muito mais sobre nós mesmos.
Em seu olhar para o mundo, o que vem primeiro: a artista ou a psicóloga, psicoterapeuta junguiana?
A artista está sempre presente, é indissociável. Não tem descanso: posso estar dirigindo, passeando, acordando, me relacionando. Ser artista é um modo de viver, acredito, de se relacionar com a vida.
A psicóloga tem muitos momentos de folga; não levo ela pra festa ou para dentro de casa por exemplo, rs. Mas a analista junguiana me trouxe um conforto e uma instrumentalização para estar na alma (este espaço intermediário, nossa psique). Adoro navegar nessas águas. Acho que não consigo mais viver de outro jeito. Nesse sentido, é também um modo de viver. O mundo passa a ser almado. O dentro e fora se conectam, estou quase sempre no lugar da experiência.
O coração posto em um totem: onde guardamos nossa sensibilidade? (Foto: Jamila Gontijo)
De que maneira a arte funciona como um canal de acesso ao inconsciente?
A arte é uma realidade psíquica. Ela te coloca num estado sinestésico. Esse entrelaçamento de sentidos se dá nesse espaço intermediário de que eu estava falando. Estamos acostumados a entender separadamente os sentidos, mas, quando lidamos com uma imagem, com uma obra de arte, estão misturados. Nesse estado polissensorial que o objeto artístico evoca, não existe barreira entre o dentro e o fora. O espectador é muitas vezes capturado. A obra de arte, com sua expressividade, fala com as pessoas, chama para uma interação. Ela encanta.
A arte é um caminho de redenção?
Pode ser como pode não ser. Ela não tem essa função. Tem um papel social: falar o que a sociedade não toca muitas vezes dessa maneira. Posso não ter vivido o assunto que abordo, mas serei um veículo para se chegar a ele.
Fiquei impressionada com a densidade da sua exposição. A gente sente no ar a carga emocional. Como você construiu isso? Foi intencional?
Foi intencional no sentido de assumir o que veio na pesquisa de Oratórios de Mim. O processo tocou minha história pessoal. Parti da infância e o conteúdo foi chegando, mas, sim, assumir é intencional. A resposta emocional do público foi maior do que eu imaginei. Não num sentido catártico, mas de diálogo interno. Eu tive relatos belíssimos, muitos. Talvez eu não tenha me dado conta de que a psicóloga e a artista estiveram todo o tempo de mãos dadas em Oratórios de Mim.
Como foi o processo de elaborar seus dramas pessoais de modo a nos tocar de forma universal?
Existe uma seleção do que vai ser mostrado e foi priorizado o que é universal. Tive um acompanhamento curatorial com Rogério Carvalho e ele entende assim a arte contemporânea: sempre toca no universal. Então, foi consciente buscar a universalidade.
Serviço:
Oratórios de Mim
De 08 a 28 de junhoVernissage: 08 de junho, a partir das 19 horas
Dias e horários de visitação: terça a sexta, das 9h às 18h
De sábado e domingo, das 9h às 17h
Espaço Oscar NiemeyerIndicação etária: a partir de 16 anos
Entrada franca
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